Letramento –
palavra bonita, não? Ultimamente é moda utilizá-la em propostas, discursos e
conferências educacionais, e quem ainda não a adicionou em seu léxico
pedagógico, é visto com maus olhos. Sua pronuncia soa como a solução de todos
os problemas ligados à aquisição da leitura e da escrita, talvez até cure os
mais variados tipos de dislexia dos educandos brasileiros, inclusive os de
origem patológica. Como? Letrando-os de acordo com a visão dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, principalmente o de Língua Portuguesa destinado ao ensino
de 1ª a 4ª séries.
Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) – em tese é o que há de mais moderno no campo
educacional brasileiro, na prática não passa de confusão metodológica. Para os
mais esperançosos, talvez seja esse, o PCN de Língua Portuguesa, o “Redentor”
que salvará a educação brasileira do analfabetismo. De que modo? Mergulhando os
alunos nos mais diversificados gêneros textuais – eu rogo para que não os afogue
nesse tsunami intelectual, já que a
maioria nem domina as correspondências entre grafemas e fonemas que, segundo
pesquisas científicas internacionais e nacionais (como é o caso de estudos
desenvolvidos pelo laboratório de neuropsicolinguística cognitiva da USP),
deveriam ser ensinadas durante a alfabetização.
Alfabetização
– vocábulo que não se encontra mais em voga em tempos construtivistas, ou, dentro
de uma visão mais otimista, palavra que sofrera certo tipo de mutação didático-pedagógica:
a qual alterou seus cromossomos ABC para o método global. Sua definição,
segundo os PCNs, está totalmente em discórdia com as visões de um simples
dicionário ou das mais criteriosas pesquisas internacionais, e no que diz
respeito à sua aplicação dentro da sala de aula, foge totalmente à metodologia
adotada por países desenvolvidos: o método fônico.
Método
Fônico – no Brasil, tais palavras são palavrões; em países como Finlândia,
França, Dinamarca, Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, nada mais é do que o
que há de mais eficaz no processo de alfabetização, visto que sua ênfase está
voltada ao ensino explícito das correspondências entre os grafemas e os fonemas
e para o desenvolvimento da consciência fonêmica e fonológica.
Como já foi
dito anteriormente, no Brasil virou tendência falar-se em letramento e todos os
seus mais variados conceitos que o engloba, porém, particularmente, oponho-me a
tal ideia, a partir, entretanto, do momento em que o termo em questão transforma-se
em esquiva construtivista que visa à negação de uma alfabetização organizada,
sistemática e, por tanto, metodizada.
É comum, nos
cursos de pedagogia, nos depararmos com uma formação docente voltada para
ensinar nossos futuros alunos a brincarem e dançarem enquanto estiverem em
âmbito escolar. Porém, futuramente, quando o Ministério da Educação (MEC)
aplicar suas provas de CONTEÚDOS TRADICIONAIS, será que os alunos poderão
responder “nesse momento estávamos brincando de roda”? Ou, em outras palavras: faço-os
dançarem e, na hora da prova, eles...
A – ( ) respondem corretamente a questão.
B – ( ) comemoram por saber a resposta certa.
C – (x) dançam...
Condena-se, alegando
ensino mecanicista e tradicional, a aplicação, a transmissão de conteúdos e a
memorização dos mesmos e até do abecedário, porém, paradoxalmente, treinam os
alfabetizandos, a partir de uma abordagem ideovisual (método global), a
memorizarem visualmente as palavras e, o que é pior, aplica-se exames
empiristas. Ora, se é proibido codificar e decodificar palavras, como é que os
construtivistas leem a Psicogênese da Língua Escrita? E se não se pode ensinar os
educandos as habilidades necessárias para a codificação e decodificação, como
eles aprenderão a ler e a escrever?
Diante de
tudo isso, não é difícil perceber a estratagema política arraigada nos documentos
oficiais brasileiros que, por caráter natural de sua própria nomenclatura,
deveriam orientar a educação nacional, e não ao contrário. Ficando, em suas
entrelinhas, uma pergunta que só os ousados podem se dar ao luxo de questionar
e responder: a quem tal disparidade pedagógica beneficia? Eu já questionei, agora
passo a você, portanto, a tarefa de responder o enigma do MEC.
Obs.: Baixe o artigo acima aqui (p.7).
Muito bom este artigo Edvaldo!.Muito bem escrito e de uma forma coerente.Crítico e reflexivo!Parabéns
ResponderExcluir