sábado, 2 de junho de 2012

A PEDAGOGIA DO PARADOXO

Letramento – palavra bonita, não? Ultimamente é moda utilizá-la em propostas, discursos e conferências educacionais, e quem ainda não a adicionou em seu léxico pedagógico, é visto com maus olhos. Sua pronuncia soa como a solução de todos os problemas ligados à aquisição da leitura e da escrita, talvez até cure os mais variados tipos de dislexia dos educandos brasileiros, inclusive os de origem patológica. Como? Letrando-os de acordo com a visão dos Parâmetros Curriculares Nacionais, principalmente o de Língua Portuguesa destinado ao ensino de 1ª a 4ª séries.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) – em tese é o que há de mais moderno no campo educacional brasileiro, na prática não passa de confusão metodológica. Para os mais esperançosos, talvez seja esse, o PCN de Língua Portuguesa, o “Redentor” que salvará a educação brasileira do analfabetismo. De que modo? Mergulhando os alunos nos mais diversificados gêneros textuais – eu rogo para que não os afogue nesse tsunami intelectual, já que a maioria nem domina as correspondências entre grafemas e fonemas que, segundo pesquisas científicas internacionais e nacionais (como é o caso de estudos desenvolvidos pelo laboratório de neuropsicolinguística cognitiva da USP), deveriam ser ensinadas durante a alfabetização.
Alfabetização – vocábulo que não se encontra mais em voga em tempos construtivistas, ou, dentro de uma visão mais otimista, palavra que sofrera certo tipo de mutação didático-pedagógica: a qual alterou seus cromossomos ABC para o método global. Sua definição, segundo os PCNs, está totalmente em discórdia com as visões de um simples dicionário ou das mais criteriosas pesquisas internacionais, e no que diz respeito à sua aplicação dentro da sala de aula, foge totalmente à metodologia adotada por países desenvolvidos: o método fônico.
Método Fônico – no Brasil, tais palavras são palavrões; em países como Finlândia, França, Dinamarca, Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, nada mais é do que o que há de mais eficaz no processo de alfabetização, visto que sua ênfase está voltada ao ensino explícito das correspondências entre os grafemas e os fonemas e para o desenvolvimento da consciência fonêmica e fonológica.
Como já foi dito anteriormente, no Brasil virou tendência falar-se em letramento e todos os seus mais variados conceitos que o engloba, porém, particularmente, oponho-me a tal ideia, a partir, entretanto, do momento em que o termo em questão transforma-se em esquiva construtivista que visa à negação de uma alfabetização organizada, sistemática e, por tanto, metodizada.
É comum, nos cursos de pedagogia, nos depararmos com uma formação docente voltada para ensinar nossos futuros alunos a brincarem e dançarem enquanto estiverem em âmbito escolar. Porém, futuramente, quando o Ministério da Educação (MEC) aplicar suas provas de CONTEÚDOS TRADICIONAIS, será que os alunos poderão responder “nesse momento estávamos brincando de roda”? Ou, em outras palavras: faço-os dançarem e, na hora da prova, eles...
A – (  ) respondem corretamente a questão.
B – (  ) comemoram por saber a resposta certa.
C – (x) dançam...
Condena-se, alegando ensino mecanicista e tradicional, a aplicação, a transmissão de conteúdos e a memorização dos mesmos e até do abecedário, porém, paradoxalmente, treinam os alfabetizandos, a partir de uma abordagem ideovisual (método global), a memorizarem visualmente as palavras e, o que é pior, aplica-se exames empiristas. Ora, se é proibido codificar e decodificar palavras, como é que os construtivistas leem a Psicogênese da Língua Escrita? E se não se pode ensinar os educandos as habilidades necessárias para a codificação e decodificação, como eles aprenderão a ler e a escrever?
Diante de tudo isso, não é difícil perceber a estratagema política arraigada nos documentos oficiais brasileiros que, por caráter natural de sua própria nomenclatura, deveriam orientar a educação nacional, e não ao contrário. Ficando, em suas entrelinhas, uma pergunta que só os ousados podem se dar ao luxo de questionar e responder: a quem tal disparidade pedagógica beneficia? Eu já questionei, agora passo a você, portanto, a tarefa de responder o enigma do MEC.

Obs.: Baixe o artigo acima aqui (p.7).

Um comentário:

  1. Muito bom este artigo Edvaldo!.Muito bem escrito e de uma forma coerente.Crítico e reflexivo!Parabéns

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Assim que eu ler o seu comentário, responderei-o imediatamente. Grato pelo carinho.